domingo, 19 de outubro de 2008

A CANDIDATURA DE SANTANA



«À superfície, a política portuguesa tem um novo problema: o problema de arrumar o indestrutível e irreprimível Santana Lopes. Santana Lopes foi com certeza o pior primeiro-ministro desta atribulada República; e levou o PSD à mais completa e vergonhosa derrota da sua história. Parecia definitivamente acabado. Não estava. Meses depois, com o "fracasso" de Marques Mendes, voltava: e não voltava para um cargo obscuro, voltava para presidente do grupo parlamentar do partido e, com isso, para a televisão e para a imprensa, o seu meio preferido, onde se refez, para usar a frase, uma espécie de virgindade: de político falhado passou, por absurdo, a político promissor. E, quando Menezes caiu, reapareceu, encantado, como candidato à presidência do partido. Ficou em terceiro lugar, com 20 por cento dos votos.

Agora, explicaram os peritos, nada o podia salvar. Até porque Manuela Ferreira Leite e o seu "ideólogo", Pacheco Pereira, representavam no partido o oposto do que ele representava: a "social-democracia" séria, responsável, "competente". Erro deles. Manuela Ferreira Leite em menos de seis meses conseguiu repor o PSD no seu estado habitual de intriga e confusão. Falou pouco, o que, em princípio, não seria mau depois da parlapatice precedente, mas não disse uma única palavra memorável, não trouxe um objectivo e um programa, não inspirou ninguém. Precisava de reforçar a sua autoridade e o seu prestígio. Preferiu hibernar. Isto, evidentemente, animou a oposição: Marcelo, Menezes, Passos Coelho, Morais Sarmento. E da balbúrdia emergiu, como de costume, Santana.»



Vasco Pulido Valente
Público (18/10/2008)

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